Entre a Loucura e a Lucidez | Estamira (2004)

Marcos Prado relata a vida de uma senhora de 63 anos que, melancolicamente, desenvolve distúrbios mentais ao longo de sua existência, paralelamente a vivência de inúmeros momentos de sofrimento e dor. O documentário de 2006 traz consigo uma reflexão sobre a loucura pautada em um ambiente propício para sua legitimação.


A Esquizofrenia é vista a partir de agudas crises sintomatológicas com uma extensa desordem dos processos mentais, o indivíduo começa perder a capacidade de interagir com suas emoções, sentimentos, pensamentos e assim perde-se o controle com a realidade. Nos sintomas inicias da esquizofrenia, o indivíduo por si só começa a apresentar uma forte tendência a hiperatividade, desatenção, dificuldade de memória e aprendizado, desânimo, sintomas de ansiedade, desinteresse generalizado e humor demasiadamente depressivo.

Na esquizofrenia existem sintomas ditos "positivos" e "negativos". Os positivos estão relacionados diretamente com o surto psicótico, alucinações, delírios e uma dose de convicção extraordinária. Já os negativos estão ligados a fase crônica da doença, embotamento afetivo, alogia, entre outros, dividindo-se em esquizofrenia a paranóide, uma esquizofrenia desorganizada, catatônica, indiferenciada e a residual.

O esquizofrênico, portanto, perde a noção entre a realidade e o imaginário. Estamira é um claro exemplo disso, apresenta certa lucidez ao explicar o que é material e imaterial, trazendo a tona questões que para ela agregam um todo filosófico, possui delírios de grandeza, alucinações, com ênfase a religião, apresenta discurso desorganizado, por outro lado no meio disso tudo apresenta uma relação afetiva com os colegas do lixão onde demostra claramente se preocupar.

O documentário nos mostra que Estamira deveria ter uma disposição genética a ter esquizofrenia, pois sua mãe já era uma esquizofrênica e o fator ambiental colaborou para o seu desenvolvimento. As alucinações vieram quando ela passou a morar bem próximo a um aterro sanitário, a partir disso ela começou a ter os seus primeiros surtos psicóticos. Teve uma vida sofrida e, consequentemente, ocorreram vários episódios que lhe foram traumáticos, encontrou na doença um refúgio para tudo o que sofreu.

Estamira não suporta a realidade que tanto a maltratou, seus distúrbios são usados como fuga, não suportas mais a crueldade de sua existência, constituindo-a em uma vitima de terceiros e de sí mesma. Muitos acreditaram que Estamira foi, na realidade, uma genuína porta-voz da natureza e da loucura, incorporando a realidade em distintas formas, descrevendo a mais absoluta realidade nada concreta, como são criadas as aparências e como isso gerou uma cadeia de fatos em um ambiente excluído, mal tratado, surrado, etc. 

“O homem é o único ser condicionado” – ESTAMIRA

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